sábado, 2 de novembro de 2013

Finados - dia dos mortos


Hoje é dia de Finados, dia dos Mortos ... Obon, como sempre conheci este feriado.
Feriado, dia de descanso, certo? Não na família de floricultores .... desde pequena, Obon foi sinônimo de trabalho, muito trabalho na minha família.

Quando ainda era pequena, meu pai revendia as flores no Ceasa de Prudente .... a minha casa ficava totalmente tomada por flores ... palmas de todas as cores e comprimentos. Elas eram categorizadas pelo comprimento do cabo ... quanto mais comprido, flores mais bonitas.



E a garagem de casa ficava tomada de palmas ... nunca entendi direito porque elas se chamam palmas ... nunca achei parecida com palma. Quando aprendi a escrever, minha função era identificar os pacotes ainda fechados de palmas com o tamanho e a cor ... V de vermelho, R de rosa, AM de amarelo .... caneta hidrocor na mão, e ia identificando, pacote a pacote as palmas que depois de identificadas, enchiam o 'ofuro' do banheiro.

Depois, veio a fase dos vasos de crisântemos, que vendíamos aos montes, no cemitério.
Crisântemos de várias espécies ... branco, amarelo, margaridinha .... todas enfileiradas pelo chão do banheiro e da cozinha .... acordar, escovar os dentes e sair pra escola era quase um labirinto de flores.


Crisântemos em japonês é "kiku" ... e isso rendia várias piadinhas ... kiku cheiroso, kiku bonito .... e nesta fase de piadinhas adolescentes, que comecei a ir, todos os anos, para o portão do cemitério vender flores.

Lembro que acordava cedo, bem cedo para abrir as barracas antes de amanhecer.
Quando a minha mãe me acordava, lá pelas 5 da matina, ela já estava de pé há muito tempo ... ela já tinha preparado os nossos "obentôs" ... já tinha feito oniguiri, milanesa, omelete e já tinha arrumado tudo, cada um para o seu destino correto, obedecendo as preferências de cada um ... o Kiyoshi sempre gostou de milanesa, e o obentô dele sempre tinha mais milanesa que os outros.
Eu, sempre adorei oniguiri com umê ... e o meu obentô ia com oniguiri recheado de umê.

Quando eu penso nesta dedicação e nesta delicadeza, meu coração se enche de saudade e meu olho de lágrima.
Como podia alguém, às antes das 5 da manhã, lembrar dos gostos de cada filho e colocar tanto amor para arrumar nossa comida.

O dia no cemitério era tão puxado, tão corrido, que a gente almoçava nos intervalos entre um cliente e outro, e talvez nunca percebemos todo este amor na comida.

E nas vendas, esta mesma delicadeza se transformava em leoa ... será por influência do signo dela?
Era ela, todos os anos, quem tinha as melhores vendas ... bater os números da minha mãe era missão quase impossível ... que eu consegui, num mísero ano ... não importava o portão que ela ficasse, ela SEMPRE vendia mais que qualquer outro.

Simpatia, sabedoria, carinho ... não sei qual era o seu segredo ... Hoje, eu acho que era a vontade no coração de fazer dar certo ... de poder, com o lucro daquele dia, dar um pouco mais de conforto pra família.

Quando eu já estava fazendo faculdade, muitas vezes, o cansaço do dia de Finados terminava em viajar a noite toda no ônibus de volta pra Campinas. Era cansativo, muito cansativo. E o descanso do feriado? Era substituído pelo abraço de agradecimento dos meus pais quando eles me deixavam na rodoviária. Pela alegria no rosto deles, de poder me dar um pouco mais de dinheiro, por todo o meu esforço .... "Compra alguma coisa que você está querendo, depois de trabalhar tanto você merece ..."

Hoje, neste feriado, acordei tarde, estou largada no sofá sem fazer nada.
Pensando até se vou fazer o almoço ou se vamos sair pra comer ....

Feriado de Finados é sinônimo de descanso.
E nesta ociosidade, tenho muito orgulho por todos os anos que eu trabalhei ao lado dos meus pais ... e daria tudo para passar mais uma vez, um dia puxado ao sol de Prudente no cemitério, comendo o obentô da minha mãe.

Saudade demais hoje....
Mas me sentindo privilegiada por ter estas memórias no meu coração.
Enquanto as lembranças tomam conta do meu dia, sinto a minha mãe viva no meu coração, mais do que nunca.....

sábado, 11 de maio de 2013

Amor maior do mundo .....



Sempre que o Dia das Mães está se aproximando eu fico emotiva .... nos comerciais previsíveis da TV, na campanha comercial de venda de presentes para as mães ... tudo lembra que é mês das mães .... e meu coração fica apertadinho, qualquer emoção me arrepia .... 

E foi assim que começou o meu final de semana do Dia das Mães.

Na quinta, minha filha me entregou o presente que ela confeccionou na aula de artes .... no desenho que ela fez, traçou com as suas mãos a minha mais nova paixão, a costura .... que sensibilidade!!! Que delicadeza!!!! A mãe que ela enxerga é a versão mais feliz e completa de mim .... uma pessoa apaixonada, que aprende todos os dias com as suas imperfeições ..... 

Na sexta foi a vez do meu filho trazer seus presentes da escola .... junto veio um lindo texto sobre um anjo chamado mãe .... me arrepiei, me emocionei, chorei lendo o texto ... como me sinto agradecida por ter sido filha da minha mãe ... como me sinto agradecida por ser mãe dos meus filhos ....

E hoje eu acordei cercada de presentes e abraços ... e no meio de toda esta emoção, fomos a celebração do dia da família na escola das crianças .... chorei com a entrada da Nossa Senhora Aparecida, chorei com a coroação, chorei com a Ave Maria, chorei com a canção que as crianças cantaram ... e depois de tanta emoção, paramos numa floricultura para comprar flores pras mães de coração que me cercam ....

Quando entrei na floricultura, foi como abrir um portal de lembranças ... em cada rosa, em cada arranjo, vi toda uma história da minha vida ... todos os Dias das Mães que passei ao lado da minha, na sua floricultura ... no carinho das mãos da moça da floricultura, lembrei de como era cansativo trabalhar no Dia das Mães ... de como os espinhos  das rosas machucavam a minha mão, e era quase impossível pegar a caneta na segunda feira ... das noites em claro preparando todos os arranjos e bouquets para o domingo, para fazer mais uma mãe se emocionar ao acordar .... e lembrar que apesar do cansaço, dos machucados, do sono, como fui felliz em compartilhar estes momentos ao lado da minha mãe ... mulher guerreira, batalhadora, que nem no seu dia descansava, para poder realizar nossos sonhos de fazer uma faculdade e ter uma profissão.

Hoje, na véspera do Dia das Mães, sensível e emotiva do jeito que estou, com as lágrimas escorrendo no meu rosto sem pedir licença, sinto um orgulho enorme de ter tido o privilégio de ser filha de alguém como a minha mãe .... como as belas rosas que ela lindamente ajeitava nos seus ramalhetes ... linda, delicada, formosa, mas que guarda dentro das folhas espinhos que a fazem ser forte e protegê-la dos perigos.  E apesar do vazio e da tristeza de não tê-la ao meu lado, olho pros meus filhos e rezo para ter herdado um pouco desta força e ser capaz de ser também uma mãe de quem eles possam se orgulhar um dia .... 
Feliz Dia das Mães para todas a mães do mundo!!!!!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Tradições de Ano Novo

'un no soba' feito pela minha tia, primeira refeição do ano

Na minha casa, Natal nunca foi uma data marcante .... mas o Ano Novo ... ah, o Oshougatsu!!!!
Todos os anos, as mesmas tradições, seguidas a risca por todos nós ... sim, todos nós, porque minha avó sempre fez questão que todos participássemos.

Começava no dia anterior, na confecção do moti, bolinho de arroz, em que a massa era batida no pilão ... e, cada um da família tinha que bater o moti no pilão .... normalmente às 7 da manhã. Lembo bem das manhãs pós baladas adolescentes, que nem enxergava direito a minha mão, e ainda tinha que sincronizar a mexida do moti com a batida do meu irmão ... ai, que medo!!!!

Todos os anos era assim ... o jantar do dia 31 em casa e o almoço do dia primeiro no sítio dos meus avós. Não importava muito quem era família do meu pai, quem era família da minha mãe ... passávamos todos juntos, nas duas tradicionais refeições mais importantes do ano na minha família.
Estar em casa à meia noite na virada do ano era algo quase religioso, para todos juntos comermos o tradicional 'un no soba', nossa primeira refeição do ano.

Não foram poucas as brigas com a minha avó na minha adolescência, porque eu queria estar na festa do Reveillon com meus amigos, mas tinha que estar em casa, porque onde já se viu não passar em casa a virada do ano? Confesso que muitas vezes fiquei muito contrariada e mal humorada ... afinal, queria estar junto da galera, e tinha que estar em casa, cumprindo tradições de velhos ....

Muitos anos se passaram desde esta revolta adolescente. Minha avó já não está entre nós, minha mãe e seus pais também não. Sinto muita saudade desta época, mas hoje fiquei feliz em ver que apesar de menos rígidos, continuamos cultivando um pouco de nossas tradições.

O jantar do dia 31 continua com muita comida, muito mais do que conseguimos pensar em comer. O soba logo após a meia noite, para dar sorte para o ano todo, foi repetido quatro vezes pela minha filha ... haja sorte! .... e apesar do moti não ser mais batido por nós, hoje tomamos o ozone, sopa com o bolinho de arroz.

As tradições são muitas, não sei se daremos conta de perpetuar todas, mas sinto um certo orgulho por cultivarmos o amor em família, por darmos valor a alguns pequenos rituais ... hoje dou muito mais valor ao "Akemashite omedetou" que falo ao meu pai, e como com muito mais vontade o soba da virada do ano ... sorte ou não, me sinto feliz por manter nossa família unida mesmo depois da partida de algumas pessoas queridas, e repetir alguns ritos é também uma forma bonita de relembrar estas pessoas, de tê-las mais próximas de nós. Porque tenho certeza de que a minha batian e a minha mãe de alguma forma estão também  no soba do final do ano ....

E no meio destas lembranças, vamos começando mais um ano ... torcendo para que o próximo soba seja tão feliz quanto foi o último .... por isso, a todos, 明けましておめでとうございます(akemashite ometedou gozaimasu) .... Feliz Ano Novo!


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Borboleta ..... pra sempre no nosso coração



Desde pequena, sempre aprendi com a minha avó que a borboleta preta era o meu avô que vinha nos visitar. Então, não podiamos espantar, nem maltratar, muito menos matar a borboleta .... Nunca conheci o meu avô, mas ele sempre esteve presente na minha vida ... me ajudava nas minhas provas, me ajudou a entrar na faculdade, me ajudou a sair da faculdade, segurou a minha mão nos vários concursos que participei.

A medida que cresci, a frescura natural das mulheres frente a bichinhos asquerosos chegou .... e eu tenho pânico de qualquer ser que se mexe .... lagartixas, besouros, grilos, pererecas .... menos da borboleta preta .... cresci com ela no meu coração, acreditando que era o ditian que nos visitava ...

Ontem, eu estava melancólica .... talvez por todas estas lembranças de final de ano, talvez por esta felicidade meio forçada que todos se obrigam a sentir no Natal .... talvez só saudade da minha mãe.
Estava muito cansada, com muito calor, sem paciência .... de saco cheio do meu marido, que fez o favor de quebrar o braço na festa da empresa. Além de virar a motorista da família, ainda tenho que aturar o mal humor do sujeito .... crises da relação que nos faz pensar 'foi pra isso que eu me casei?'

Dormi mal a noite, acordei mal de manhã ... ainda tinha que ir trabalhar, mas cadê a disposição?
Ainda tinha que levar o marido no médico, pra certificar se tinha quebrado o osso ou não ... cadê a paciência?
Ainda tinha que fazer compras no supermercado, porque agora sou a única que dirijo em casa ... cadê a energia?

Levantei da cama, como numa obrigação, tentando me convencer de que se eu fizesse tudo rapidinho, poderia descansar a noite ....

E quando desço pra tomar café, as crianças gritam com a borboleta preta que está voando dentro de casa ... assustada, ela vem pra perto de mim.
Tive certeza de que era a minha mãe .... me dizendo que era preciso paciência. Lembrando que tudo na vida é reflexo do nosso astral .... e se a gente jogar mal humor pra fora, só pode receber de volta o mal humor multiplicado.
Era como se a ouvisse dizendo que eu tinha que ter paciência com o meu marido .... nem tudo são flores o tempo todo, 'e você pensa que é fácil manter um casamento por 50 anos?' .... ela me diria com certeza.
Sentir a presença dela tão perto me fez pensar em como ela sempre me ensinou a ser feliz .... a agradecer as pequenas felicidades, sem ficar reclamando do que não está bom, e olhar as coisas boas da vida.

E mais uma vez, numa lição de vida aprendida com a minha mãe, levanto e olho para o encanto da minha família .... o braço do Zé continua quebrado, as crianças continuam gritando pela casa, os brinquedos continuam espalhados pelo chão, e a geladeira continua vazia esperando as compras do supermercado ... mas aquela simples borboleta me abriu os olhos para a perfeição ao meu redor ....

É, mãe ... você continua me dando broncas quando eu amoleço ... e eu agradeço com todas as minhas forças por isso ... você será eternamente lembrada em nossos corações ... e pela borboleta, que saiu pela janela e foi pousar perto de alguém que está precisando sentir um pouco de paz no coração.

Beijo ... e feliz 2013 para todos nós!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

NHK紅白歌合戦 - Kouhaku Utagassen



Final de ano chegando .... todos os anos é a mesma coisa "Nossa, o ano já acabou!" .... "Como este ano passou rápido!" ... "Preciso fazer as compras de Natal" ... e, para quem voltou a acompanhar o cenário musical japonês, é época da lista dos participantes do Kouhaku Utagassen.

Lembro como a minha mãe gostava de assistir o Kouhaku.
A expectativa dos cantores, da roupa que eles usariam, da música que eles cantariam ... todos os anos assistir o programa com ela era uma delícia .... no começo, era preciso esperar vir o VHS de São Paulo, depois com a trasmissão ao vivo no Brasil pela NHK, era preciso apenas esperar acabar as obrigações da ceia do Oshougatsu e assistir o vídeo gravado pelo meu pai.

Depois que eu saí de casa para estudar, perdi um pouco o interesse pela música japonesa, e pelos festivais e programas de música. Mas de uns tempos pra cá, talvez numa tentativa de resgatar as melhores lembranças da minha mãe, voltei a assistir programas de música japonesa e novelas japonesas .... como a Internet ajuda a diminuir a distância com o Japão .... talvez de alguma forma diminua também a distância com a minha mãe ....

No ano passado, eu assisti de novo o Kouhaku, depois de muito tempo ... gostei da experiência, apesar de não conhecer mais os cantores .... lembrei tanto da minha mãe e me emocionei em vários momentos do programa .... Este ano, mais conectada e por dentro da mídia japonesa, já vi a lista dos participantes .... a metade eu não conheço, é verdade .... mas voltei a me interessar pelo SMAP e TOKIO, super moleques da minha época de Kouhakus .... e, por influência de uma amiga virtual que encontrei nestas minhas andanças pela Internet em busca de notícias de novelas e músicas, estou na expectativa pela apresentação do Kanjani8.

Fico pensando no que a minha mãe diria vendo a ausência da Kobayashi Sachiko, ou as apresentações grandiosas das AKB48 e SKE48 ... será que ela ainda ficaria feliz vendo o Hosokawa Takashi sem um fio de cabelo fora do lugar, apesar das inúmeras plásticas no rosto? O que ela diria sobre o Arashi, quando eu comentasse que eles são mesmo lindos? Os próprios Shonentai da atualidade .....
Mãe, aí no céu passa o Kouhaku? Ou você vem me visitar pra assistir comigo? Posso acreditar que sim?
O que eu faço com esta saudade enorme que teima em me visitar toda vez que eu vejo algum programa relacionado a música japonesa?

Bom, no meio desta saudade, vou me preparando pra assistir o Koukahu este ano. Ainda não sei se vou conseguir ver ao vivo ... mas com a velocidade que as coisas sobem na net, provavelmente no dia seguinte já será possível assistir .... sentindo a minha mãe sentada ao meu lado, ou dentro do meu coração, vou fazendo sozinha os comentários que ela faria .... acho que assim me sinto mais perto dela, e ajuda a minimizar um pouco a saudade que eu sinto dela ....

É, mãe ... que bom que terei para sempre as lembranças de nossos Kouhakus para poder de alguma forma me conectar de novo a você nas viradas dos anos ...saudades e te amo pra sempre!



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Reencontros


Depois de meses longe do blog, senti vontade de escrever de novo ...
Estou de férias, e provavelmente as emoções da viagem pra Prudente despertaram sentimentos que estão pedindo para serem transformados em palavras.

Desde a perda da minha mãe, meus sentimentos andam intensos. Se a saudade é imensa e a tristeza de não poder mais abraçá-la enchem meu coração de lágrimas, também aprendi a valorizar mais os momentos. Aprendi a viver intensamente cada encontro, cada coincidência. O nosso último café da tarde juntos, uniu, pelo acaso ou pela mão de Deus, meus pais e os 4 filhos, num simples café ao redor da mesa. Parecia que seria mais um, depois de muitos anos, é verdade, mas ninguém imaginava que seria o último. Agradeço todos os dias a Deus por ter dado a oportunidade de estarmos juntos naquele tarde.

Depois disso, comecei a dar mais valor a cada momento da minha vida ... não diminuiu, em nada, a tristeza de ter perdido um grande amigo depois de uma despedida rápida na porta do salão na festa do meu filho. Uma despedida comum, com a certeza de que o próximo encontro seria dali a alguns dias, na próxima festa. Mas só fez reforçar ainda mais este desejo de encontrar as pessoas, reencontrar as pessoas que já foram importantes na minha vida.

E este ano, quase numa promessa de começo de ano, decidi que faria todo o esforço necessário para encontrar as pessoas. E, passado meio ano, acho que tenho tido sucesso nesta empreitada. A coincidência tem me ajudado também, ou seria o reconhecimento divino do meu esforço, e a mão de Deus tem colocado as pessoas no mesmo local que eu para que estes reencontros aconteçam ... só sei que só este ano, encontrei pessoas que não via há 20 anos e posso dizer que cada encontro tem sido sensacional. O tempo, a distância, nos levou a caminhos diferentes, mas o carinho que nos uniu um dia continua forte e faz com que o abraço seja muito sincero.

Logo no começo do ano, fui para Indaiatuba, pertinho aqui de Campinas, encontrar uma grande amiga, companheira de baladas, shows e carnavais. Foram muitas lembranças, conheci sua filha e seus sobrinhos, filhos de também amigos antigos, e saí deste encontro com vontade de mais, de resgatar as memórias e mostrar o quanto foram importantes para mim e quanto de carinho ainda existe.

Em abril, teve a missa de 2 anos de morte da minha mãe. Numa agradável surpresa, recebi as minhas primeiras melhores amigas, duas irmãs que não via desde o meu casamento. Ver a filha de uma delas, trouxe tantas lembranças da nossa infância e adolescência. O abraço de despedida foi muito sincero e confortante. Depois de tanto tempo, muita coisa mudou, mas o carinho ainda é imenso.

E nesta última ida a Prudente, pra comemorar os 80 anos do meu pai, vi que estes encontros têm valido muito a pena. Ainda no meio da emoção do discurso e fotos da comemoração, mais um encontro, a amiga que foi companheira das primeiras noites de estudo, da luta pelo vestibular, do primeiro passo pra vida independente quando fomos pra SP fazer cursinho. Mais uma desta mesma época, não pode ir na festa do meu pai, então decidi ir visitá-la, afinal um conflito de agenda não ia atrapalhar meus planos de encontrar meus amigos. Foram encontros deliciosos, ver que as companheiras de baladas tinham se transformado em mães dedicadas foi realmente emocionante.

Como ainda tinha mais um dia na cidade, combinei de ir encontrar uma amiga ainda da época do ginásio. Fazemos aniversário no mesmo dia, nasci exatamente um ano depois dela, e talvez esta coisa de signo, de astros, tenha nos unido, fazendo com que nossos gênios se combinassem. E mesmo depois de tanto tempo, é delicioso conversar, dar risada. O seu esforço de sempre é encantador e mais uma vez, a admirei pela sua força delicada de correr atrás de seus sonhos.

E, quando estava deixando a cidade, com um sentimento de dever cumprido, encontro, ao acaso, no saguão do aeroporto, alguém que não via há mais de 20 anos ... que coincidência deliciosa. O marido dela embarcou no mesmo avião que nós, e mesmo tendo sido muito rápido, encontrá-la foi sensacional ... o abraço de despedida foi cheio de carinho. Mesmo que o próximo encontro seja daqui a 20 anos, a mensagem de que ela foi importante pra mim parece ter sido transmitido naquele abraço.

Por isso, a minha promessa de começo de ano, vai se transformar numa promessa permanente ... farei destes reencontros a prioridade dos meus esforços ... no meio das obrigações e agendas das crianças, não será uma tarefa fácil, mas depois da emoção destes primeiros encontros, posso garantir que vale a pena. Por isso, amigos que não vejo há muito tempo, aguardem ... eu vou ao encontro de vocês!!!!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Akemashite omedetou ....



E lá se foi mais um ano ... Ano Novo, muitas promessas, muitas esperanças ... mas a verdade é que todos os anos o Ano Novo pra minha família significa muita comilança.
Nunca comemoramos o Natal na minha família ... somente a passagem do ano. Todos os anos, a virada de ano era obrigatória e sem margem para negociações.

A minha mãe passava o dia cozinhando, para ser devorada em minutos à noite, e depois da meia noite, o tradicional "um no soba" (macarrão da sorte). Comi soba pra passar no vestibular, para arrumar um bom emprego, para ter um bom parto. Talvez lá no fundo do meu coração, comi soba para arrumar um grande amor também. E sempre, agraciada pelo soba ou por simples sorte ou destino, todos os meus sonhos foram se realizando.

Este ano, no segundo "Oshougatsu" sem a minha mãe, é inevitável lembrar de todas as tradições que ela fazia questão de perpetuar em nossa família ... além de muita comida no jantar da passagem de ano, o soba como primeira refeição do ano, ainda teve moti distribuídos nos carros e o Kouhaku Utagassen.

O Kouhaku é um festival de música que acontece todos os anos no Japão na noite de 31 de dezembro. Os cantores de maior prestígio nacional se dividem em equipe branca (masculina) e equipe vermelha (feminina) e duelam com apresentações megalomaníacas e visuais de gosto questionáveis.
Mas a verdade é que é um espetáculo, com detalhes e organização literalmente nipônicas.

A minha mãe sempre gostou do Kouhaku ... quando eu era criança, e a tecnologia era realmente do século passado, o Kouhaku levava cerca de seis meses para chegar ao Brasil. Lembro da minha mãe indo assistir a sessão do Kouhaku na ACAE com todo o restante da colônia japonesa prudentina.
Depois, chegou a era do vídeo cassete, e a espera diminui para um ou dois meses. Meu pai ia pra São Paulo e alugava o vídeo do Kouhaku e a minha mãe tornava-se indisponível por quatro horas para apreciar cada apresentação.

Eu já não estava mais em casa quando chegou a transmissão via satélite e a NHK passou a transmitir ao vivo no Brasil. Pronto, não tinha mais espera ... toda manhã do dia 31 de dezembro, o Kouhaku era transmitido ao vivo no Brasil também. Mas como dia 31 de dezembro era dia da minha mãe passar o dia cozinhando, meu pai gravava e ela assistia no dia seguinte ... quase como tradição, no primeiro dia do ano, eu assistia com a minha mãe o Kouhaku do dia anterior.

Teve um tempo em que eu acompanhava anualmente o Kouhaku. Sabia quem ia cantar, qual música, ficava esperando pra ver com qual roupa apareceria, que novidade seria mostrada ... glorioso anos 80, com as apresentações de Akina, Seiko e Kyon Kyon. Teve também a inesquecível despedida da Mori Masako e torcia todos os anos, junto com a minha mãe, pro Akagumi (equipe vermelha) vencer.

Depois perdi interesse, achava todas as apresentações iguais, todas as meninas dançavam no estilo Spice Girls, e todos os homens (?) também pareciam as Spice Girls. Mas, para fazer companhia para a minha mãe, assistia com ela e continuava torcendo pra equipe vermelha.

Este ano, depois de anos, resolvi acompanhar e assistir ao Kouhaku.
Quanta diferença do tempo em que a minha mãe esperava seis meses pra ver uma apresentação. Hoje, menos de 24 horas depois, já estava na Internet, a apresentação e vários comentários sobre as apresentações. E este ano, depois de vários anos de domínio masculino, a equipe vermelha ganhou.

Me senti mais perto da minha mãe, ou senti minha mãe mais perto de mim, não sei direito.
Mas tive a nítida sensação de que ela estava sentada ao meu lado quando a Matsuda Seiko cantou com a sua filha ou quando o "boneco" Hosokawa Takashi dividiu o palco com a Fuji Ayako. Certamente minha mãe teria gostado de ver estas apresentações e teria vibrado com a vitória do time feminino.

Talvez não, porque acho que ela tem algo mais evoluído para fazer no novo mundo onde ela se encontra do que torcer pra equipe feminina, mas lembrar dela nos pequenos sentimentos assistindo o Kouhaku, me fez ter certeza de que a minha mãe viverá para sempre em minhas lembranças e trazer a tona estas lembranças preenche meu coração com o seu amor.

Sinto muita saudade, mas hoje a dor é menor do que já foi, e consigo espantar a tristeza simplesmente lembrando de coisas boas que passamos juntas ... Te amarei para sempre!!!!

Que venha 2012!!! 明けましておめでとうございます ...ou simplesmente, Feliz Ano Novo!!!!