sábado, 2 de novembro de 2013

Finados - dia dos mortos


Hoje é dia de Finados, dia dos Mortos ... Obon, como sempre conheci este feriado.
Feriado, dia de descanso, certo? Não na família de floricultores .... desde pequena, Obon foi sinônimo de trabalho, muito trabalho na minha família.

Quando ainda era pequena, meu pai revendia as flores no Ceasa de Prudente .... a minha casa ficava totalmente tomada por flores ... palmas de todas as cores e comprimentos. Elas eram categorizadas pelo comprimento do cabo ... quanto mais comprido, flores mais bonitas.



E a garagem de casa ficava tomada de palmas ... nunca entendi direito porque elas se chamam palmas ... nunca achei parecida com palma. Quando aprendi a escrever, minha função era identificar os pacotes ainda fechados de palmas com o tamanho e a cor ... V de vermelho, R de rosa, AM de amarelo .... caneta hidrocor na mão, e ia identificando, pacote a pacote as palmas que depois de identificadas, enchiam o 'ofuro' do banheiro.

Depois, veio a fase dos vasos de crisântemos, que vendíamos aos montes, no cemitério.
Crisântemos de várias espécies ... branco, amarelo, margaridinha .... todas enfileiradas pelo chão do banheiro e da cozinha .... acordar, escovar os dentes e sair pra escola era quase um labirinto de flores.


Crisântemos em japonês é "kiku" ... e isso rendia várias piadinhas ... kiku cheiroso, kiku bonito .... e nesta fase de piadinhas adolescentes, que comecei a ir, todos os anos, para o portão do cemitério vender flores.

Lembro que acordava cedo, bem cedo para abrir as barracas antes de amanhecer.
Quando a minha mãe me acordava, lá pelas 5 da matina, ela já estava de pé há muito tempo ... ela já tinha preparado os nossos "obentôs" ... já tinha feito oniguiri, milanesa, omelete e já tinha arrumado tudo, cada um para o seu destino correto, obedecendo as preferências de cada um ... o Kiyoshi sempre gostou de milanesa, e o obentô dele sempre tinha mais milanesa que os outros.
Eu, sempre adorei oniguiri com umê ... e o meu obentô ia com oniguiri recheado de umê.

Quando eu penso nesta dedicação e nesta delicadeza, meu coração se enche de saudade e meu olho de lágrima.
Como podia alguém, às antes das 5 da manhã, lembrar dos gostos de cada filho e colocar tanto amor para arrumar nossa comida.

O dia no cemitério era tão puxado, tão corrido, que a gente almoçava nos intervalos entre um cliente e outro, e talvez nunca percebemos todo este amor na comida.

E nas vendas, esta mesma delicadeza se transformava em leoa ... será por influência do signo dela?
Era ela, todos os anos, quem tinha as melhores vendas ... bater os números da minha mãe era missão quase impossível ... que eu consegui, num mísero ano ... não importava o portão que ela ficasse, ela SEMPRE vendia mais que qualquer outro.

Simpatia, sabedoria, carinho ... não sei qual era o seu segredo ... Hoje, eu acho que era a vontade no coração de fazer dar certo ... de poder, com o lucro daquele dia, dar um pouco mais de conforto pra família.

Quando eu já estava fazendo faculdade, muitas vezes, o cansaço do dia de Finados terminava em viajar a noite toda no ônibus de volta pra Campinas. Era cansativo, muito cansativo. E o descanso do feriado? Era substituído pelo abraço de agradecimento dos meus pais quando eles me deixavam na rodoviária. Pela alegria no rosto deles, de poder me dar um pouco mais de dinheiro, por todo o meu esforço .... "Compra alguma coisa que você está querendo, depois de trabalhar tanto você merece ..."

Hoje, neste feriado, acordei tarde, estou largada no sofá sem fazer nada.
Pensando até se vou fazer o almoço ou se vamos sair pra comer ....

Feriado de Finados é sinônimo de descanso.
E nesta ociosidade, tenho muito orgulho por todos os anos que eu trabalhei ao lado dos meus pais ... e daria tudo para passar mais uma vez, um dia puxado ao sol de Prudente no cemitério, comendo o obentô da minha mãe.

Saudade demais hoje....
Mas me sentindo privilegiada por ter estas memórias no meu coração.
Enquanto as lembranças tomam conta do meu dia, sinto a minha mãe viva no meu coração, mais do que nunca.....

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